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Foto do escritorMonica

A pesca da Tainha

A tainha é um dos recursos pesqueiros mais importantes do litoral dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.


A espécie alvo principal pescada é a Mugil brasiliensis, mas o nome tainha é designado para vários peixes da família dos Mugilídeos. Elas atingem cerca 1 metro de comprimento e podem pesar até 8kg, no entanto é mais comum exemplares com 60cm.

As tainhas passam grande parte de sua vida em regiões estuarinas na Lagoa dos Patos, no RS. Durante os meses de outono, os adultos iniciam uma migração reprodutiva ao longo da costa em direção ao norte, onde são estimulados pelas quedas de temperaturas. Com a entrada das frentes frias na região, as tainhas seguem em busca de águas mais quentes para fazer a desova. A aventura começa com grandes grupos agregando-se e expondo-se ao mar praticamente sem comer, elas utilizam a própria gordura acumulada e seguem focadas na reprodução. Neste momento as ovas vão crescendo, a gordura vai sendo consumida e logo machos e fêmeas lançarão na água seus gametas, que vão se unir numa fecundação realizada fora do corpo. Milhões de filhotes irão nascer, mas só uma pequena fração conseguirá tornar-se adultos e seguir tudo de novo.

Aqui em Santa Catarina, como de costume, os ventos de sul anunciam a chegada dos peixes. A temporada de pesca da tainha já começou e foi oficialmente aberta no dia 1 de maio e se estenderá até 30 de julho. Neste período, redes e pranchas disputam os mesmos espaços no mar. Vários conflitos já foram gerados: de um lado os pescadores que esperam o ano inteiro para a retirada de toneladas de peixe para seu sustento, e do outro os surfistas que, apaixonados pelo esporte, precisam abrir mão da prática por pelo menos dois meses.

A queixa dos pescadores é que o som gerado pelas pranchas batendo na água afastam os cardumes, já os surfistas acreditam que esta afirmação é um tanto quanto exagerada. Sabemos que o antigo método de pesca de cerco o é uma tarefa muito delicada e que barulhos excessivos assustam os cardumes, afirmam ainda os pescadores artesanais que os peixes “se abrem” e dispersos vão embora. Opiniões à parte, o mais importante é haver equilíbrio, onde o surfista respeita a época e o pescador respeita o surfista.

Com a pesca liberada, os barcos a remo são comumente avistados em prontidão nas praias. A beleza ver de perto o arrasto de um grande cardume de tainhas é incrível. O ritual começa quando, no alto das dunas, os “olheiros” (também chamados vigias), aguardam ansiosos a entrada dos cardumes na baía. Os vigias da pesca de arrastão são pescadores experientes com uma boa visão que possuem a missão de ficarem atentos a qualquer movimento que denuncie a existência de uma manta de peixes. Eles garantem que é possível saber a quantidade que há num cardume pelos saltos, pelo barulho que a espécie faz e pelo tamanho da mancha opaca na água.

As observações pelos “olheiros” podem ser feitas de duas maneiras: de pontos fixos no alto das dunas e das pedras ou pelos vigias móveis que circulam de bicicleta por toda a praia.

Assim que um cardume é avistado, os olheiros acenam seus casacos para os camaradas que estão em prontidão a fim de colocar as canoas na água. O grito é um ritual que se multiplica de boca em boca avisando que o cardume está se aproximando, convocando desta maneira a pesca do cerco e do arrasto dos peixes.

No esforço das remadas, a canoa vai avançando e os pescadores vão descrevendo um semicírculo. Aos poucos, o patrão, experiente, vai soltando a rede dando equilíbrio à canoa. No retorno, uma ponta do cabo é amarrada e já em terra os demais pescadores aguardam aflitos a ordem do patrão para iniciar o arrastão. Passo a passo a rede vai sendo puxada para a areia. Com o término do arrastão, a partilha do pescado é feita e, felizes os pescadores vão para casa com fartura.

A tainha tem um delicioso sabor e pode ser preparada de diversas maneiras: frita, assada, recheada, escalada. O pessoal que mora na praia entende e respeita essa prática. Muitos surfistas inclusive ajudam os pescadores a puxar as redes e aproveitam para comer tainha na brasa com os amigos.

Esta tradição, que perpetua a gerações, garante o alimento e o sustento de muitas famílias. Ela merece ser respeitada e admirada. Quando a pesca é farta, a comunidade local faz a festa!



Mônica Pontalti

Bióloga, Msc. e Doutoranda em Ciência e Tecnologia Ambiental, UNIVALI.

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