Entenda porque baleias e golfinhos estão ingerindo plástico.
Diversos são os projetos de conservação, nacionais e internacionais, que estão preocupados com a saúde das baleias. Quando uma baleia encalha, biólogos e veterinários buscam estimar a causa pela qual o animal morreu e para isto, coletam importantes dados como as medidas do corpo, diferentes amostras de tecido e até mesmo pequenos pedaços de órgãos internos. Estes materiais são fundamentais para se fazer análises laboratoriais e averiguar se houve interações com atividades humanas. Quando possível, também é feita uma análise estomacal, ou seja, a baleia é aberta pela barriga para verificar se há evidências de ingestão de lixo, o que pode ser a principal causa da morte.
Recentemente, vários casos foram relatados de baleias que morreram por ingerirem lixo plástico. Vamos entender como acontece: as grandes baleias possuem muitos pares de barbatanas filtradoras que são responsáveis pela coleta de pequenos peixes e krill na superfície da água (lembrando que o Krill é um pequeno crustáceo que vive nas águas geladas da Antártica, a principal área de alimentação de muitas espécies de baleias). Com o auxílio das barbatanas, as baleias nadam com a boca aberta na superfície e “filtram como peneiras”, toneladas e toneladas de alimento. A água vai fluindo entre as rígidas barbatanas e o alimento é acumulado para posteriormente ser engolido. Esta técnica alimentar pode ser um tanto quanto perigosa para as baleias filtradoras, pois expõe estes animais a ingerir outros resíduos que não pertencem à sua dieta natural, como é o caso de plásticos que tendem a boiar na água. No caso de golfinhos e cachalotes, por exemplo, podem confundir lulas com pedaços de plásticos e assim também ingerem estes resíduos por engano, principalmente as espécies que vivem em áreas próximas das zonas urbanas costeiras e de zonas portuárias.
Ao ser ingerido, o lixo não é digerido e fica retido no estômago e no intestino do animal, ameaçando a sua vida. Existem inúmeros eventos, em diversas partes do mundo, de baleias que comeram plásticos e acabaram encalhando, como por exemplo na Espanha, onde uma baleia ingeriu mais de 59 tipos diferentes de lixo como: sacolas, alguns metros de corda, pedaços de mangueira, pequenos vasos e uma lata de spray.
Possivelmente não há nenhuma área oceânica livre dos impactos humanos. A degradação dos habitats naturais marinhos está cada vez mais evidente e afetando direta e indiretamente o estado de saúde de muitos animais. Baleias e golfinhos são peças-chaves dos problemas ambientais em grande escala e por isso são considerados bioindicadores da qualidade dos mares. Ao monitorar a saúde destes animais, pode-se obter informações importantes sobre as ameaças as quais enfrentam e as necessidades de conservação dos seus territórios.
O conhecimento científico gerado através dos exames do conteúdo estomacal de diversas espécies que encalham, pode ser traduzido em planos emergenciais de conservação que permitam estratégias para se melhorar os locais onde há coexistência entre as baleias e os homens.
Devemos deixar de ser meros expectadores das belezas naturais e lembrar que o declínio dos ambientes saudáveis é de nossa responsabilidade. Estamos fazendo mal, não só a nós mesmos, mas a todas outras espécies que habitaram o planeta Terra muito antes do ser humano. Pense sobre isso!
Mônica Pontalti,
Bióloga, Msc e Doutoranda em Ciência e Tecnologia Ambiental, UNIVALI.
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