Todo biólogo que é apaixonado pelo mar, sonha em trabalhar no mar.
O profissional biólogo tem uma ampla gama de linhas no qual poderá seguir profissionalmente, e uma delas é embarcar em grandes navios para estudar as baleias e golfinhos.
Este desejo não é impossível de ser realizado, no entanto para se chegar lá, é preciso muita dedicação. Além de anos estudo para concluir a graduação (geralmente 5,5 anos), experiência e inglês fluente são requisitos fundamentais na hora de disputar uma vaga. Cursos extracurriculares, mestrado e doutorado são um “super-bônus” para quem quer ser pesquisador. O tempo de estudo investido durante toda a vida de quem se dedica realmente ao que gosta, transforma-se em realização pessoal com o tempo.
Viver em confinamento por longos períodos em alto mar tem, como todo trabalho, seus benefícios e suas dificuldades. Às vezes, o anseio por um sonho nos leva a trilhar caminhos que não são fáceis, e assim é a vida de quem deixa para trás, mesmo que temporariamente, a família, o conforto de casa, os amigos e o livre arbítrio de ir e vir. Quando você cruza a linha entre a terra firme e o balanço do mar e, vagarosamente vê cada vez mais distante o continente, você começa a entender e sentir sensações totalmente distintas do dia a dia.
Em alto mar, as horas passam lentamente e os dias aparentam ser mais longos. O nascer e o pôr do sol são intensificados por cores indescritíveis, limpas e hipnotizantes.
O azul do mar em concordância com o céu transmite uma paz sem fim. Peixes voadores e grandes cardumes passam a compartilhar os momentos de solidão no trabalho. O binóculo assume o posto de confidente e fiel companheiro, estando presente todo o tempo. De repente, com o olhar fixo no horizonte, grupos gigantescos de incontáveis golfinhos rasgam a tranquilidade do oceano e rapidamente realizam lindas acrobacias.
Nos minutos seguintes, enormes e majestosas baleias “bailam” nas águas claras do atlântico, saltando 10 a 15 vezes, deixando apenas os rastros de espuma como prova de sua força. E assim, desaparecem no infinito profundo. Os cardumes de grandes peixes que circundam o navio atraem aves marinhas que mergulham longos metros como velozes torpedos, retornando ao voo com uma bela refeição. Assim são os dias no mar.
Você se acostuma com o balanço, com a rotina de acordar antes do sol nascer e de dormir na presença da lua clareando a escuridão. Poucas horas de sono, restrita vida social e ausência do “mundo externo”. Aos poucos o corpo percebe que o tempo é seu amigo e que ele conduz os pensamentos para o que se pode chamar de evolução pessoal.
As pequenas coisas se tornam grandes e abençoadas, você enxerga diferente e sente-se diferente. Muitas pessoas olharão para seu estilo de vida e perguntarão: mas como você consegue ficar tanto tempo trancada em um navio? Daí você olha, respira, pensa e relembra cada pôr do sol, cada tom, cada cor e cada baleia livre que cruzou seu olhar, deixando uma singela mensagem no seu coração. Tudo isso e outras tantas sensações poderiam resumir modestamente o porquê você se abdicou de tantos prazeres para estudar, mas estas justificativas são internas e não existem palavras que expliquem esta sensação.
Talvez, por este estilo de vida “diferente” é que somos taxados (muitas vezes carinhosamente e outras tantas não) como “bicho grilo”.
Então parei, relembrei e sorri.
Escrito por: Mônica Pontalti, Bióloga, Msc. e Doutoranda em Ciência e Tecnologia Ambiental, UNIVALI.
Imagens: arquivo pessoal.
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